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EVILÁSIO JÚNIOR
(BRASIL – MARANHÃO)
Evilásio Júnior, nascido em Santa Inês-MA, é poeta, escritor e ativista underground. Graduado em Letras da Universidade Estadual do Maranhão; acadêmico de Filosofia da Universidade Estadual do Maranhão-UEMANET; acadêmico de Direto da Faculdade Santa Luzia. Tem publicações em diversas antologias no Brasil. Autor do livro Pulsões de vida e morte, poesia, lançado pela Penalux, São Paulo, em 2019.
DANIEL, Claudio. NOVAS VOZES DA POESIA
BRASILEIRA. Uma antologia crítica. Capa: Thiti
Johnson. Cajazeiras: Arribação, 258 p.
ISBN 978-85-6036-3333365-6
PÉTALAS DE PEDRA
é necessário nesta coivara de agonias
ser somente selvagem
rasgar a aridez do solo
mesmo com a carne lambida por mil sóis
fazer das unhas garras
arranhar o fundo da terra
é preciso remendar as arranhaduras do tempo
assobiar preces aos pássaros
antes do último voo
semear as asas esvaídas no verão
ver o renascimento das coisas
neste caminho de cinzas
nos lábios ressecados aparecem pétalas defloradas
flor de carne que pulsa a palavra dura feito pedra
linguagem de lâmina amolada na dureza da garganta
dentes afiados retalham o silêncio farpado
olhos recolhem ausências deixadas pela estiagem
mão acolhem as feridas que germinam nos calos.
CENAS
não é apenas um dia
há qualquer coisa
de cansaço no ar
sem leveza
pássaros com asas de chumbo
trazem o peso do voo
não há nada de novo
nem rotas de fuga
só a fadiga nas pálpebras
do desassossego
é preciso calar o fracasso
cantar o hino
na boca da derrota
beijar a lona, o lodo, a lama
sem lamentações
sair de si
dançar em transe
marcar a transa
transitar pelo obtuso
o obsceno
sair de cena (quando preciso)
DOS SILÊNCIOS QUE HABITAM EM MIM
morri quando pétalas negras
desabrocharam
em seus olhos fechados
e o silêncio sepultou
todas as lágrimas
há um túmulo em meu peito
morri quando bebi a dor
nas madrugadas
na companhia da solidão
depois que a noite
me abraçou
nunca mais amanheci
morri quando senti
o perfume da ausência
no corpo
a pele sem fragrância
e sem formosura
é frasco vazio
morri ao ver seu rosto
se dissipar feito fumaça
no meu pensamento
imagens esvaídas me invadem
recolho as cinzas
sou retrato desbotado na sala
as pessoas pensam que estou vivo
mas na verdade estou morto
desde o dia em que você se foi
sou uma sombra
caminhando pela cidade.
*
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Página publicada em outubro de 2024
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